Entrou no carro. Passou a mão no rosto e fixou suas palmas nele. Olhou os colegas saindo. Pôs as mãos no volante. Levou a mão ao bolso. Tirou um cigarro. Acendeu. Pegou a carteira e olhou seu salário dentro. Tragou fundo.... soltou. Coçou a testa enquanto olhava para o dinheiro. Era pouco. Havia meses não sobrava nada para si. O aluguel, a ajuda para o plano de saúde dos pais e Vitória, sua filha que ele tão pouco via.
Tragou fundo novamente. Lembrou-se de Fátima, sua ex-mulher, partindo. Desde então trabalhava o máximo que podia para honrar a pensão de sua filha. Sua querida filha. A vida estava difícil é verdade, mas ele não poderia escapar. Amava sua filha e, mesmo não podendo vê-la tanto quanto gostaria, era ela que o fazia acordar todos os dias e enfrentar seu trabalho.
Apagou o cigarro. Olhou para todas aquelas pessoas saíndo do trabalho e imaginou o que os motivava. Ter uma boa casa? Um bom carro? Ter dinheiro para se divertir e não pensar em mais nada? Manter um lar? Manter uma família? Família... suspirou. Olhou novamente o dinheiro e lembrou-se de quando aos 15 ajudava seu pai no depósito. Quando comprou sua moto, aos 17. Quando foi morar com Fátima numa kitinete, enquanto cursavam a faculdade. Os sonhos e os momentos felizes... apenas lembranças agora. Acendeu outro cigarro.
Vitória... a dádiva de sua vida. Chorou. Sentia saudades... ligou o motor. A chuva caia lentamente. Lembrou de como Vitória gosta de chuva. Da vez em que Vitória lhe puxou pela mão para tomar banho de chuva. Vitória... talvez a única vitória em sua vida... mas ele não desistiria.
domingo, 20 de janeiro de 2008
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