segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Universo VIII

A noite está tranquila, o jazz rola solto e as conversas estão animadas. Devo admitir que há muito não conhecia um grupo tão empolgado. Passar a noite com esse pessoal é aventurar-se, pois nunca faltam idéias do que fazer e aonde ir. Com alguns amigos, perto do som, converso sobre música em geral. Passamos algum tempo ali bebendo vinho e conversando, estendendo o assunto para outros horizontes. Passeio meus olhos pelo apartamento até encontra-la. Lá estava ela, com algumas amigas, na sala de jantar. Sirvo-me de mais vinho e peço licença aos meus amigos. Dirigo-me para a sacada, onde fico apenas observando.

Passeio meus olhos por aquele corpo. Passeio meus olhos por aquele rosto. Deus, como ela sabe ser feminina! Tudo nela, do mais leve movimento ao conjunto de seu corpo é de uma sensualidade hipnótica. E aqueles olhos... e aqueles lábios... Passeio meus olhos por aquelas costas e lembro de minhas mãos deslizando por elas, passeio meus olhos naquela nuca, onde meus lábios estiveram...

Não sei dizer quanto tempo fiquei ali observando ela. Ao que parece tempo bastante para ela me procurar entre os amigos, até virar-se para a sacada. Ela passa as mãos de leve em seu corpo, com um sorriso nos lábios, aproximando-se em seguida. Que belíssima cena! O movimento das pernas, dos quadris, dos braços e dos cabelos... vê-la caminhar com sensualidade em minha direção, com aquele lindo sorriso no rosto.

- Aí está você... posso saber o que faz sozinho nessa sacada?
- Estava te observando...
- Você adora fazer isso, não?
- Sim querida, eu adoro...

Envolvo meus braços em sua cintura. Ela morde os lábios levemente. Beijamo-nos lenta e demoradamente. Suas mãos colocam-se em meu peito e ela passeia seu rosto no meu. Voltamos a nos beijar demoradamente para, por fim, ficarmos abraçados.

- Você transforma qualquer noite numa noite perfeita, minha querida.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Reflexus

"O tempo durmiu,
Não há despertar
Lembraças morrem...
Os dias passam
E não vão recordar"

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Magic

"I got a coin in your palm
I can make it disappear
I got a card up my sleeve
Name it and I'll pull it out your ear
I got a rabbit in the hat
If you wanna come and see
This is what will be
This is what will be

I got shackles on my wrists
Soon I'll slip and I'll be gone
Chain me in a box in the river
And rising in the sun
Trust none of what you hear
And less of what you see
This is what will be
This is what will be

(I'll cut you in half)

I got a shiny saw blade
All I need's a volunteer
I'll cut you in half
While you're smilin' ear to ear
And the freedom that you sought
Driftin' like a ghost amongst the trees
This is what will be
This is what will be

Now there's a fire down below
But it's coming up here
So leave everything you know
Carry only what you fear
On the road the sun is sinkin' low
Bodies hanging in the trees
This is what will be
This is what will be"

Bruce Springsteen

Discurso

Tirou os óculos. Passou água no rosto, secou-se. Olhou-se no espelho. Ali, naquele camarim ele estava com seus pensamentos. As coisas estavam acontecendo cada vez mais rápido, mas não havia mais como fugir... nõa podia mais ignorar. Ao fundo, ouvia a voz que lhe apresentava, com todos aqueles elogios e frases de efeito. Tudo aquilo que ele não mais queria ouvir. Ouviu seu nome ser chamado. Respirou fundo, caminhando em direção ao palco. Seus pensamentos consigo. O primeiro passo dentro do palco e todos aqueles aplausos, que pareciam estar abafados... olhou as luzes, olhou os fotógrafos... chegou ao microfone. Pausa. Silêncio de todos esperando a primeira palavra... Olhou a platéia, olhou seu discurso, exalou o ar....

- Senhoras e senhores....

Nova pausa. Ele poderia muito bem seguir com aquilo que todos queriam ouvir... poderia muito bem seguir como se aquilo fosse real... mas não... era a hora de sair daquele estado, era hora de remar contra a maré. Era hora de libertar-se.

- ... estamos dormindo. Sim, estamos dormindo. Nos últimos 200 anos temos causado danos irreversíveis a este planeta. Levamos a extinção inúmeras espécies de animais e criamos toneladas e mais toneladas de lixo. Mas estamos dormindo. Estamos fascinados com este modo de vida. Estamos fascinados e queremos vivê-lo. Muito é falado sobre o meio-ambiente, visto que agora está na moda ser verde, mas o que é realmente falado? Evite o uso de papeis, use menos o seu carro, evite as sacolas plásticas, plante árvores.... sim, esses pequenos gestos realmente ajudam o ambiente... mas não mudam o modo de vida ao qual estamos fascinados. Não mudam o real problema... nosso modo de vida. E a mídia nos fascina ainda mais... com reportagens sobre o futuro verde, as tecnologias miraculosas... Mas essas tecnologias vem apenas para manter tudo como está... e nos iludir com um mundo melhor, que até, por um tempo, parecerá melhor... mas não teremos resolvido a raiz de nossos problemas... o nosso modo de vida.

- As cadeias produtivas hoje são complexas... há uma grande interconexão entre nosso dia-dia e o andamento do planeta. Conflitos étnicos, guerras, violência que não para de crescer... tudo isso não é por acaso, é apenas o resultado de nosso sono, de nossa parilisia diante dos fatos, de nossa preguiça em buscar a verdade... nossa preguiça que aceita tudo que nos é passado sem questionamento. Queremos ficar quietinhos, vivendo nossa fascinação e deixar os problemas para os outros.... construímos muros, nos isolamos para que ninguém pertube nossa fascinação. E o tempo passa... e mundo fica cada vez pior... mas saímos do trabalho, chegamos em casa, ligamos a tv... olhamos o notíciário como se fosse algo distante... até ficamos chocados com alguma coisa, mas logo esquecemos... pois mergulhamos no mundo do entretenimento e nos fascinamos com esse mundo mágico... e queremos ficar por lá... Tudo bem, tudo bem... podem aumentar os impostos, mas me deixe com meus canais de tv. Tudo bem, podem roubar bilhões, eu não ligo, desde que eu tenha meus canais. Tudo bem, podem sucatear toda as necessidades básicas do cidadão... mas me deixe com minha tv.


- E destrõem todos os avanços conseguidos por pesosas como nós ao longo dos últimos 200 anos... mas nós não ligamos... Por que eles nos fascinam com teorias que dizem que tudo sempre está caminhando para o melhor... que tudo nesse planeta, desde a nascente do nilo até o oceano pacífico deve ser privatizado, deve entrar na lei do mercado... porque a lei do mercado é a melhor... será mesmo? Não é o que parece quando olhamos atentamente o quadro em que o planeta se encontra. E vamos criando um abismo para o qual fatalmente vamos cair... Precisamos acordar, precisamos buscar a verdade, deixar o modo passivo para trás. O mundo é aqui e agora e ele precisa de nós, acordados, para reverter esse quadro. Ele precisa de nós, acordados, para que possamos frear os intereses de uma minoria manipuladora, que sabe muito bem o que está fazendo, embalando nosso sono para nos tirar tudo... Que possamos viver despertos. Que possamos criar um mundo melhor... sem utopias, sem sonhos mirabolantes, mas sim no dia-dia, nas relações humanas, no trabalho... em atos. Precisamos agir! E quando despertos agirmos, teremos a força e a união necessária para a mudança. Acordemos! Acordemos!

Saiu dali sem prestar muita atenção aos aplausos mornos que seguiam. Ele sabia que ativismo não cria milagres, que aquela platéia provavelmente amanhã já esqueceria do que ele disse, mas ele sabia que tinha que seguir. Anos virão pela frente onde sua persistência e dedicação serão provados... mas ele está disposto a seguir, encarar os problemas. Ele não quer mais domir. Não importa o que aconteça.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Universo VII

Caminhamos de mão dadas pelo jardim. Conversamos jovialmente. Da casa, vem o som de Mendelssohn, que deixamos tocando. Entre as árvores sentamos. Servimo-nos de vinho e brindamos. Ela, encantadora, como sempre. Toda beleza, graça e sensualidade, que docemente me fala:

- Meus pais te admiram. Teu caráter, teu modo de ver a vida...
- Pois a admiração é mútua. Gosto da companhia de teus pais. Todas as conversas foram prazerosas e de grande valia. São pessoas nobres e me tratam como um filho. Na verdade, tudo isso é incrível. Tu, teus pais, essa casa...

Ela beija-me. Trocamos carinhos e sorrisos... Tudo aquilo era realmente incrível e nós sabiamos. Ali, naquele jardim, entre as árvores, estamos traquilos, serenos. Desfrutando do vinho entre beijos e conversas animadas. Ali, naquele jardim, entre as árvores, entregamo-nos um ao outro.

- Veja essa casa meu querido. Aqui sempre serás bem-vindo. Aqui, sempre terás amigos. Aqui, sempre terás um lar...

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Universo VI

Fico olhando ela dormir. Tão doce! O belo corpo nu. Os cabelos macios. Os lábios rosados. Passeio levemente minha mão nas suas curvas, com cuidado, para não acorda-la. A melodia. Posso ouvir a melodia que ela emana. Continuo passeando levemente minha mão pelo seu corpo, devagarinho, sentindo cada centímetro. Tão doce!

Beijo levemente sua face. Mantenho meu rosto colado ao dela... busco o ar que sai de seus pulmões... fecho os olhos... posso ouvir a melodia. Seguro sua mão. Levo ao meu peito. Abraço-a suavemente... ela abre os olhos, não diz nada, apenas busca meus lábios e cola-se em meu corpo, fechando os olhos novamente.

Faço carinho em seus cabelos. Estamos mergulhados num mar de tranquilidade. Fecho os olhos e me deixo levar... busco o ar que sai de seus pulmões, sinto o ar dentro de mim... em seus braços quero dormir. Em seus braços estou em paz...

O jogo

Levou a mão ao queixo. Passou os dedos em sua barba. Inclinou-se para trás.

- Tem certeza? - perguntou.
- É claro que tenho.
- Não sei...
- Qual é? Não confia em mim?
- Pior que não... - rindo.
- Ah.... sem essa... já expliquei certinho!

Olhou Vítor por um instante. Não havia dúvidas que ele era expert em entrar em furadas. Mas também não havia dúvidas que suas arriscadas por vezes resultavam em grandes jogadas. Tomou um gole de cerveja. Respirou fundo.

- E então? Topa? - perguntou Vítor.
- Ok... mas com uma condição. Eu comando.

Aqui ele sabia que estava jogando alto, mas se havia aprendido alguma coisa na vida, é que não devia estar no fim da fila. Tomou mais um gole de cerveja. Olhou o pessoal no bar. Olhou o pessoal na rua... não havia dúvidas... estava jogando alto... quem sabe alto demais. Mas ele queria jogar, estava no seu sangue. Não queria uma vida simples e banal. Ele queria mais...

- Cacete Ricardo.... você dificulta...
- É pegar ou largar Vítor....
- Não sei, será que v...
- É pegar ou largar! - interrompendo, de modo bem enfático.

Vítor ficou em silêncio. Agora Ricardo sabia que estava no comando. Como nos velhos tempos. Podia sentir o sangue correr em suas veias. A sensação de liberdade. A mente cosntruindo tudo rapidamente, o filme que se seguia. Sorriu. Estava de volta. Estava vivo.

- Ok Ricardo, você comanda.
- Agora estamos realmente conversando.
- Cacete... você sempre consegue.
- Sim eu sempre consigo - com um sorriso no rosto - e é por isso que eu comando. Já calculei as possibilidades. Já sei o que fazer e quando fazer.

Levantou-se. Terminou seu copo de cerveja. Ah como era bom estar de volta! Saiu do bar renovado. Pegou a moeda, jogou para o alto, deixou cair no chão, pisou em cima. Olhou o resultado. Sorriu. Estava jogando alto... quem sabe alto demais...