terça-feira, 23 de outubro de 2007

Bruno e as guitarras psicodélicas

Tarde de sol, brisa levemente rápida e a ordem social seguindo seu paradigma. Bruno sentou-se no banco da praça, tomou mais um gole de cerveja olhando algum desses músicos de rua, que vivem de esmolas e simpatia. Suspirou algum hunf qualquer e tomou outro gole, agora focando seus pensamentos nas arquiteturas dos prédios em volta da praça.

Bruno era um desses jovens que não existem. Seus sonhos não são daqui e seu modo de ser tampouco. Algumas almas nascem assim, perdidas na linha do tempo sem saber ao certo para que lado ir. Provavelmente pegarão qualquer caminho pela frente, seja ele a solidão, o auto-equilíbrio ou a autodestruição. Bruno por enquanto estava no primeiro, mais por força de hábito que por escolha. Terminou a cerveja sem pressa, sentado no banco velho e duro que o acomodava.

Levantou-se preguiçosamente e com as mãos no bolso seguiu seu caminho. Guitarras psicodélicas embalavam seu sonho tão perdido no tempo. Um jeans, uma guitarra e uns amigos que topassem a estrada... e o mundo não seria mais o mesmo... poeira ao vento! Cores vibrantes e alegria... só o cinza existia. Deixa pra lá...

Aquilo que vem de dentro, dizem, não é possível prever. Para Bruno era mais uma verdade crua para carregar. Nunca sabia. Qualquer hora era hora, mesmo nas mais estranhas possíveis. Como no aniversário de sua irmã; na tarde que Andréia não apareceu e levou consigo seu coração; ou então, rindo com seu velho amigo Davi numa tarde qualquer, dessas que a gente nunca lembra... até lembrar. Vai ver é assim mesmo... afinal o que mais ouve das pessoas é “a vida é assim mesmo, fazer oquê?”.

Os passos arrastavam seus pés... e tudo passava como num desses filmes antigos, onde o centro está imóvel e a imagem de fundo fica em movimento. Cult! Poderia até ser... e talvez seja. Mas para Bruno pouco importa a analise do conteúdo poético de seu filme. Importava para ele aquela poesia esquecida nos confins de uma existência tão pouco emotiva, onde mais vale por gasolina no tanque que rabiscar um sonho humanitário. Mais uma voz... ecoando num folhetim anarquista qualquer...

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