domingo, 2 de setembro de 2007

Imenso

Fazia três semanas que não chovia. Dirceu sentou-se na porta de sua casa. O imenso diante de seus olhos. O velho imenso. O vento sopra quente e seco. Céu azul, nehuma núvem. Dirceu tem sede. Mas precisa economizar água. Seus filhos ainda não chegaram da escola e eles teriam mais sede que ele. Afinal eram longos 8 quilômetros da escola até sua casa. Passou a mão na barba. Lembrou-se de como Helena gostava de sua barba. Olhou para o céu.

- Estou fazendo o que posso meu amor... Tião está cada dia mais inteligente. Ele tenta me explicar coisas que não consigo entender. Já o pequeno João está determinado, quer me ajudar em tudo, as vezes preciso brigar com ele para que ele estude. Teimoso como você...

Dirceu deteve as lágrimas. Respirou fundo. Homem não chora, dizia seu pai. Com muito esforço controlou o peito que insistia em explodir. Olhou novamente o imenso diante de seus olhos. Pó. Catinga. Pó. Tantos anos... mãos calejadas. A cara enrrugada de tanto sol, parecendo uma massa de barro seco. A velha casa, que já nasceu velha e desgastada. O terço na parede, sobre a cama, onde Helena sempre deixava. Maldito peito que queria explodir.

- Tião será doutor. Um doutor e tanto. Ô menino inteligente!

Tirou o chinelo. De pés descalços... como nos velhos tempos. Podia sentir Helena do seu lado escovando os cabelos e reclamando da vida. Daquele modo que só ela fazia. Homem não chora, dizia seu pai. Estava ficando cada vez mais difícil obedecer seu pai. Logo os meninos chegariam. João iria querer ajudar Dirceu em qualquer coisa e Tião falaria tudo aquilo que Dirceu jamais conheceu. Ele podia sentir Helena.

Faltava ar, o peito queria explodir.... talvez fosse hora de desobedecer seu pai...

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