Passou a mão na barba. Olhou para a paisagem que conhecia como a palma de sua mão. Trinta anos... tão rápidos. O outro homem continuava dirigindo com seu cigarro inclinado na boca, quase caindo... baforando de quando em quando. Enfim, resgatou o cigarro com os dedos e olhou para o passageiro, falando:
- Deixou tudo pronto?
- Hã - um pouco abrsorvido em si mesmo - sim, deixei sim...
- Que bom... espero que não tenha esquecido nada... geralemente as pessoas esquecem...
- Dobre à esquerda aqui...
O carro sacode um pouco ao entrar na estrada de terra. O resto da viagem foi quieta, nenhum dos homens falou. Imperava uma sensação de tranquilidade. O sol estava se pondo dando ao céu um tom avermelhado. O gado começava a se recolher. O canto dos passáros como uma despedida.
Depois de cerca de meia-hora, enfim chegaram. O passageio é o primeiro a descer... caminha alguns passos, abre os braços e respira fundo. O motorista apenas acende mais um cigarro enquanto pega as coisas. O passageiro diz:
- Existem coisas inimagináveis escondidas nisso tudo. É humilhante ser um humano e não ter tempo de compreender.
- Talvez nós não devamos compreender... - respondeu o motorista.
- Tens filhos?
- Sim, dois meninos.
- Passa tempo com eles?
- Quando não estou trabalhando, sim...
- Eu amo meus filhos... mas talvez nunca tenha demonstrado isso...
- Acredite, nós nunca demonstramos o suficiente...
Sentaram-se, abriram o vinho e começaram a tomar lentamente em silêncio. Olhavam a paisagem em volta, como que num ato místico. Não falaram nada. Terminaram o vinho.
- Está pronto? - perguntou o motorista.
- Sim - respirou fundo - estou sim.
O motorista olhou mais uma vez para o homem à sua frente. Sacou a pistola, rosqueou o silenciador, destravou e atirou. O tiro atingiu bem no meio das testa, como sempre. Levantou-se, acendeu um cigarro, olhou a paisagem por uns instantes e entrou no carro... era hora de voltar para casa.
sábado, 17 de março de 2007
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