sábado, 17 de março de 2007

Já passam das duas.

“Já passam das duas, e ela ainda não abriu a porta... está ficando frio e ela ainda não abriu a porta. Será que ela não me ouviu chamar? Claro que ouviu... e esse frio... se ao menos tudo parasse de girar... Ela ainda não abriu a porta. Cansou de ajuntar-me pelas esquinas, cansou de ter problemas... está ficando frio, e ela ainda não abriu a porta... Por que machuco alguém que amo tanto? Por que sou um verme? Se ao menos eu pudesse voltar ao bar, mas minhas pernas... Por que diabos pensar em bar agora? Não basta o que você já fez a ela? Está ficando frio... e ela ainda não abriu a porta. Se eu pudesse sentir o calor dela, o cheiro dela... mas eu sou um verme maldito... quanto já fiz ela chorar. Ela deve estar chorando agora, maldito... veja só o que você faz a pessoa que você ama! Eu não passo de um verme... como posso querer o amor de alguém? Brrr, tão frio... e as estrelas giram... e essa calçada áspera... o pó... e ela ainda não abriu a porta.

Tudo tão quieto, será que estou vivo? É claro que estou vivo, não queira fugir agora seu maldito... está vivo o bastante para perceber que só machuca ela, para perceber que joga tudo fora... por causa da bebida e dos rabos de saia... tão frio... tão frio... tão quieto... e eu aqui na calçada... junto à sujeira, sim este é o meu lugar... no chão, rastejando como um verme, nem assim para pagar tudo que fiz à ela... ò ela é tão bonita, tão especial... por que ela não abre a porta? Ao menos dessa vez... pare, não chore... não chore... tarde demais, minhas lágrimas já congelam em meu rosto... tão frio... ela ainda não abriu a porta, luzes apagadas... tudo tão quieto... ei, acho que tenho um cigarro, isso vai me esquentar um pouco... sim... cof cof... a tosse é um sinal que ainda estou vivo... aliás, você disse à ela que pararia de fumar... mas está tão frio... ò Deus, sou um fracasso!

Tudo gira... apenas consigo ver a luz dos carros que passam e nada mais... como posso ficar assim? Tão bêbado que não consigo mover-me... ao menos posso acender outro cigarro... gostaria de olhar para a lua... mas tudo gira... não consigo ver nada, só sei que ela ainda não abriu a porta... minha doce menina... a única coisa que vale a pena nesse mundo decadente... se soubesse o quanto lhe amo... mas sou um fracasso... minha alma é suja... por que me deste a honra de teus braços? Por que perdeste tanto tempo comigo? Eu não mereço nada... ó Deus, destruí todos os teus sonhos... consumi teu riso como este cigarro que morre em minha boca....

Todas as vezes que me defendeste perante tua família... e eu aqui.... nesta calçada, bêbado, com o perfume barato de cada vadia que pude encontrar... tão frio... tão frio e tu não abres a porta, não aparece com teu sorriso e me diz que está tudo bem... sou um fracasso, um verme maldito... fuja de mim... não me deixe destruir sua vida assim como destruí a minha.... tão frio... este é o meu lugar. Esta calçada áspera e suja é o que mereço... luzes apagadas... você não abriu a porta... deixe-me acender outro cigarro... tudo gira... não consigo mover-me... tudo gira... luzes apagadas... porta fechada, carros que passam, tão frio... lembra de quando você conheceu ela? Era para tudo ser diferente... tudo que disse para ela... ó menina... eu realmente te amo... eu realmente te amo! Mas minha alma é tão suja... cof cof... cof cof...cof cof...

Não consigo para de tremer... está tão frio... meus cigarros acabaram... cof cof cof cof cof... tudo gira... está tão frio... e ela ainda não abriu a porta...”

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